segunda-feira, julho 02, 2012

Guardar...


Ela teve uma idéia...
Chegou na loja e comprou um pedaço de fita... vermelha... cor do coração.
Chegou ao quarto e pegou vários pedaços de papel. Escrevia neles, como bilhetes, e um a um colocando numa caixinha de madeira, delicadamente decorada.
Quando ela percebeu já não cabiam mais papéis na caixa. Foi apertando eles para que coubessem.
Hora que resolveu parar, suas lágrimas haviam encharcado a mesa e a sensação que ela tinha é que ainda tinha o que escrever...
Fechou a caixa, e preparou a fita... passou delicadamente por baixo da caixa em forma de cruz... transformando-a em uma linda embalagem de um  presente. Lacrou a caixa com um lindo laço.
Ficou ali, olhando a caixa com o pensamento longe... longe... Fitava-a  como se não a visse, ela estava mais próxima da lua do que do chão.
Ali, dentro daquela caixa, ela resolveu colocar todas as lembranças dele... todas as boas lembranças deles...
Lembranças como o dia em que se conheceram... aquela olhadinha para o lado com um sorriso pra ela quando ele dirigia...  o dia em que a chamou de deusa...  o dia em que declarou todo o seu amor... todos os beijos... todos os suspiros ... as risadas... os toques... todas as vezes em que desligou o carro e ela ficava horas falando, ele ouvindo... aquele e-mail de aniversário... o dia em que disseram que se amavam pela primeira vez... as ligações de horas até altas horas... as historinhas... a mão dela na perna dele enquanto estavam no carro... do dia em foram assistir filme juntos pela primeira vez...de todas as outras... dos momentos família... com as crianças...
Acabou descobrindo que eram bem mais do que imaginava... e, nesse exercício, acabou se lembrando de muitos outros detalhes  de uma linda história de amor.
Fez isso pra simbolizar a retirada dessas memórias da mente e do coração. Memórias que a impediam de seguir em frente, de recomeçar. Elas ficavam lhe dando uma falsa ideia de esperança, de história mágica... Fazia sentir-se idiota, enganada pelo próprio coração.
Ela nunca traiu seu coração. Anos praticando diálogo, amizade e cumplicidade.
Teve essa ideia. Guardar. Se vai funcionar ela não sabe. Mas pelo menos ela está tentando.
Não sabia o que fazia com a caixa... Sentia um enorme carinho por ela. Então a colocou no fundo de uma gaveta...
Vai chegar a hora de queimar... amanhã talvez...

sábado, junho 30, 2012

REMAR

Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar.



Remar.Re-amar.Amar.